10 de jul. de 2011

Matéria sobre "Luz do solo", em 2001

Despojada e desbocada, Cássia Eller deu a partida anteontem na segunda edição do projeto A Luz do Solo, que apresenta shows intimistas com grandes nomes da MPB e seus respectivos instrumentos. Num reduzido palco do ATL Hall, na Barra, a cantora se revezou nos violões de cordas de nylon e de aço (de seis e 12 cordas), num passeio por seu repertório conhecido, com algumas novidades e várias passagens divertidas - ela brigou com os cabos, cuspiu água (mas pediu desculpas ao fotógrafo que estava na linha de tiro), fez barulhos de personagens de desenho animado entre as músicas e disparou p.q.p.s a rodo, moleque que só. Rainha do autodeboche, Cássia não teve receio em parar as músicas e recomeçar. ''Tô nervosa pra c.!'', anunciou. O show (que se repetiu ontem), de qualquer forma, não foi gravado. Há temores de que mais um disco ao vivo (seria o quarto de sua carreira, o terceiro com violões) vá atrapalhar os trabalhos de divulgação do Acústico MTV que ela lançou há poucas semanas.
Logo de cara, uma surpresa: uma interpretação delicada, no violão de cordas de nylon, de Cherokee Louise, canção da musa folk Joni Mitchell. Fez um bom par com a releitura de Youve changed (gema do repertório de Billie Holiday), em clima bossa, com sax, lembrando a parceria João Gilberto/Stan Getz. No restante do tempo, desceu a mão nas violas, em show que representou mais um avanço em seu ecletismo - hoje em dia ela parece ter cacife para cantar o que quiser.
Algumas das músicas foram extraídas de seu último disco de estúdio, Com você... meu mundo ficaria completo: Maluca (do niteroiense Luís Capucho), Gatas extraordinárias (de Caetano Veloso, bem recebida pelo público) e o sucesso O segundo sol, uma das várias músicas compostas pelo produtor do CD, o titã Nando Reis. ''Eu nem fumei maconha hoje! Só me falta errar essa'', brincou a cantora. Sua admiração por Nando parece ser tão grande que ela enveredou ainda pelo repertório do seu mais novo disco solo, Para quando o arco-íris encontrar o pote de ouro, do ano passado. Cantou All star (que era uma declaração de amor a Cássia) e Relicário (já gravada por ela no Acústico MTV, junto com outra do compositor que acabou entrando no show, Luz dos olhos). Mas teve também para ex-titã: de Arnaldo Antunes, Cássia releu Doce do mar (parceria com Carlinhos Brown) e Socorro (com Alice Ruiz, há muito presente no seu repertório).
Inevitável - Bons momentos do Luz do Solo da cantora foram a canção Espaço (de Vitor Ramil), um Vila do Sossego no violão de aço (''Desculpa aí, Zé Ramalho!'', pediu ela) e, no de nylon, Queremos saber (de Gilberto Gil, gravada em seu Acústico). Como instrumental de violão, ela arriscou (bem) um blues do Led Zeppelin (''Coitados dos caras!'', debochou mais uma vez). E, sem correr riscos, atacou com a inevitável Malandragem (Cazuza e Frejat) e uma trinca Renato Russo: Eu sei, Por enquanto (com uma falsa introdução de Faroeste caboclo) e 1° de julho. Antes do bis (com a versão reggae de Eleanor rigby, ''de los Beatles''), uma convincente releitura de Diamante verdadeiro, música de Caetano, gravada por Maria Bethânia no célebre disco Álibi.
Para quem perdeu a apoteose intimista de Cássia, está prevista uma nova apresentação em breve no DirecTV, em São Paulo. No Rio, o projeto Luz do Solo continua semana que vem, terça e quarta-feira, com Lenine. Ana Carolina e Ed Motta são as atrações das semanas seguintes.

(Sílvio Essinger)

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